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O medo não nos paralisará

Não há o que dizer hoje para amparar tanta dor e angústia que nos atravessam irmãs. O medo paira no ar, mas não nos paralisará. É a noite escura. Não sabemos do futuro. Não há palavras para nos consolar e não podemos sequer nos furtar um abraço. Eu gostaria de poder dizer a cada uma de vocês, mulheres, que vamos resistir e tudo vai passar. E vai, sim, eu sei. Mas também sei que quando tudo fica difícil demais no mundo, é sobre nós, sobre nossos ombros, que recaem todas as chagas.

Estamos com medo.

Mulheres, o que posso dizer? O medo nunca nos abandona. Ele é nosso companheiro fiel desde que nascemos, desde nossa primeira lufada de ar. É nosso companheiro mais antigo, a primeira fera que aprendemos a domar. A sombra que nos acompanha noite e dia, sempre à espreita. Sempre nos mantendo vigilantes. Onde fazemos morada. Nós conhecemos o medo desde sempre e sabemos o que fazer.

E sim, está tudo muito mais difícil. Estamos adoecendo, empobrecendo, perdendo nossos amores, nossos pais e também nossos filhos. Estamos passando fome, vendendo nossos corpos de diferentes maneiras para nos sustentar. Estamos nos submetendo a todo tipo de violência. Confinadas. Sequestradas. Reféns de um poder patriarcal que não se importa com nada e muito menos com mulheres.

Mas eu acredito, ainda acredito, que não há força maior e mais revolucionária, e potente, que a de mulheres quando finalmente se unem na mesma direção. Eu acredito na força que só mulheres, criadas para resistir desde sempre a todo tipo de abuso apenas por serem fêmeas sob o patriarcado, desenvolveram. Tiveram que desenvolver.

Toda mulher é uma sobrevivente e não é agora que seremos paradas.

Que nossas semelhanças nos unam, mais do que nossas diferenças nos separam. Esqueçam os “feminismos”, nós somos uma única voz, lutando por questões pungentes, de vida e morte. Lutando por comida, por abrigo, por dignidade. Lutando para defender nossas crianças. Lutando umas pelas outras. Mulheres por mulheres. Sempre. Precisamos agora ser um único corpo, compacto, indevassável, um corpo de mulher, que faz as pazes com seu sangue e resiste. E vai pra luta defender a si e os seus.

Hoje, 8 de março de 2021 é um dia de lutas. E mais que nunca brigamos para sobreviver. Lutamos contra a fome, contra a exploração, contra a violência, lutamos contra o poder patriarcal materializado de forma pura diante de nós. Olhem e vejam. Encarem a batalha que descortina-se diante de nós sem subterfúgios. Vamos sair dessa fase de negaçao. A guerra agora é sobre resistir, sobre sobreviver, sobre não perecer de fome, adoecimento, totalitarismo. É sobre permanecer caminhando até sair do outro lado desse longo caminho escuro e interminável e assistir ao sol nascer.

Cuidem-se. Protejam-se. Protejam os seus. Não tenham ilusões que cairá alguma migalha dessa mesa para mulheres e crianças. Está tudo bem se você está com medo. Quem não está com medo não está entendendo nada sobre o que está acontecendo. Lembre-se que o mundo nunca nos paralisou. E não vai nos paralisar. Vamos juntas.

Cila Santos

https://cilasantos.medium.com

Escritora, feminista, mãe e ativista pelos direitos das mulheres e das crianças. Criadora do projeto Militância Materna, falo sobre feminismo, maternidade e infância, disputando consciências por um mundo melhor. Vamos juntas?

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