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Ser mãe, no país dos absurdos, durante a tempestade

Talvez nunca tenha sido tão insuportável ser mãe como nessa longa tempestade que atravessamos, nesse país dos absurdos, governado por pessoas tão más. Porque atravessamos esta tormenta com nossos filhos nos braços, e muitas de nós estão ficando pelo caminho, e muito pouco estamos conseguindo fazer para ajudar umas as outras.

Eu nunca, particularmente, senti medo de morrer. Até que tive um filho. O primeiro e mais forte sentimento então que eu tomei contato, mais até que o profundo amor que me tomou, foi o medo da morte. Medo de partir sem saber que destino meu filho teria então. Medo que meu filho partisse, levando com ele meu coração dilacerado. Nesses tempos que vivemos, todas nós, que somos mães, convivemos com essa sombra pesada sobre nossas cabeças como nunca antes, porque são inúmeras as ameaças. E sim, para cada filho que se vai, a dor é todas as mães, porque toda mãe conhece esse terror, esse medo desesperado de partir antes dos seus filhos. E para onde olhamos só há dor.

Então eu queria deixar aqui o meu mais sincero abraço a todas as mães que perderam seus filhos nessa pandemia que é muito mais horrorosa do que deveria por conta do desgoverno que vivemos.

Para cada mãe que perdeu seu filho para a violência do Estado e para todas as mães, principalmente negras, pobres, periféricas, que além do medo da pandemia nunca sabem se seus filhos retornarão vivos para casa porque sabemos que nossa cor nos torna um alvo.

Para as mães que perderam seus bebês da maneira mais horrenda, vítimas da violência masculina.

Quero deixar toda minha solidariedade para todas as mães que estão nesse momento sem saber como vão alimentar seus filhos, porque a pobreza nos assola.

Para cada mãe que está sofrendo as mais terríveis violências dentro do seu lar, sem perspectiva de fuga e proteção para suas crianças.

Para todas as mães que estão em burnoutdepressão, crises de pânico, ansiedade crônica, ou cuja saúde mental está esvaindo com algum outro quadro, porque já não dão conta de dar conta de tanta coisa.

Para todas as mães que estão exaustas, sofridas, amedrontadas, sem saber o que fazer com seus filhos, que resposta oferecer, sem saber que mundo existe lá fora para oferecê-los.

Para todas que estão hospitalizadas, ou que estão nesse momento com seus filhos internados.

Queria deixar o meu mais sincero abraço para todos filhos que perderam suas mães, para aqueles que estão com muito medo de perdê-las.

Queria também que cada criança hoje pudesse sentir-se especialmente confortada, querida, segura. Mas eu sei que não é possível, mas ainda é possível desejar, de todo o coração, e mandar os pensamentos mais felizes e acreditar que eles podem ter força sim.

Só nos resta resistir, é o que estamos fazendo. O que sempre fizemos. Não sei ainda por quanto tempo. E nos resta também acreditar que vai passar. Trincar os dentes e seguir em frente. Resistir, sim. Mas até quando?

Cila Santos

https://cilasantos.medium.com

Escritora, feminista, mãe e ativista pelos direitos das mulheres e das crianças. Criadora do projeto Militância Materna, falo sobre feminismo, maternidade e infância, disputando consciências por um mundo melhor. Vamos juntas?

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