As 3 leis do patriarcado para os meninos

O patriarcado é o sistema social que produz a dominação masculina na sociedade. Dessa forma, há 3 leis do patriarcado para os meninos que eles devem aprender para que cresçam e se tornem os homens que garantirão a manutenção dessa estrutura de poder, que sustenta-se através da exploração sexual e reprodutiva de mulheres.

Esses conceitos embora não sejam ditos abertamente, tampouco são ensinados de maneira “sutil”, ao contrário, estão presentes em cada elemento da nossa cultura, nos valores das nossas instituições, nos nossos símbolos, no nosso imaginário social. E por isso é preciso muita atenção tanto para reconhecer quanto para assumir uma postura crítica cada vez que uma dessas três normas são apresentadas aos meninos:

  1. homens têm a supremacia: 
    para onde meninos olham são apresentados a modelos da supremacia, dominação e onipotência masculina. Deus é homem. Assim como os reis, a maioria esmagadora dos líderes mundiais, todas as grandes figuras históricas, cientistas, artistas. Todas as figuras admiráveis por seus feitos e contribuições para a humanidade. Nos filmes, desenhos, os protagonistas são homens. Se não são protagonistas tem mais tempo de tela, mais falas. E quando se olha em volta vê o pai, amigos, parentes, vizinhos, todos homens comuns, sendo sempre em alguma medida servidos por mulheres. E ele nota como, mesmo sendo criança, já possui privilégios de tratamento em relação a meninas, seja no próprio núcleo familiar, seja na escola, ou em outros ambientes. É muito fácil para um menino, principalmente se for branco, com dinheiro, crescer com a noção de que é o centro do universo. O mundo é masculino e são homens que dominam a história, economia, os governos, a produção cultural, a ciência, indústria, mercado, tecnologia, entretenimento. Em toda parte são homens produzindo sobre si e para si e meninos aprendem muito claramente que são os herdeiros da terra. Mas não existe um dominador sem os seus dominados e a segunda lei do patriarcado que meninos aprendem é sobre reconhecer quem serão seus servos.
  2. mulheres são inferiores e existem para servir ao homens: 
    a primeira coisa que meninos aprendem sobre si é que eles não são meninas. E que ser uma menina é a pior coisa que pode acontecer visto que elas são a medida de tudo que é inferior e indesejado na sociedade: se meninos são fortes, meninas são fracas, se meninos são rápidos, meninas são lentas, se meninos são espertos, meninas são tolas, se meninos são inventivos, meninas são fúteis, meninos são legais, meninas são chatas. “Menina”, “mulher”, é sinônimo de imperfeição e motivo de escárnio, e nenhum menino quer “parecer mulherzinha”, “correr como menina”, “chorar como menina”, “andar como menina”. O que meninos aprendem sobre meninas é que elas são o outro, são a negação de si, são o oposto, o fraco. Se meninos aprendem que são superiores, muito rapidamente entendem a quem são superiores: às meninas. Homens não aprendem a amar mulheres. Não aprendem a admirá-las, não conhecem seus feitos, suas grandes obras, suas descobertas. Não se interessam pelo que pensam, pelo que produzem. Ao contrário, aprendem a desprezar mulheres, a sentir “nojo”, e isso tem nome: misoginia. Uma única coisa é mostrada à exaustão sobre mulheres como aquilo que deve ser desejado, ambicionado e conquistado: o corpo feminino, seu sexo. Porque mulheres são desumanizadas e objetificadas. Uma única coisa é ensinada que mulheres tem a oferecer para homens: seus serviços de cuidado do lar e dos filhos, preferencialmente homens, para que ele transmita seu legado. Meninos aprendem que mulheres existem para servi-lo, que o corpo feminino existe para excitá-lo e dar prazer, que o ventre da mulher existe para gerar seus filhos, e que ele tem o direito de tomar uma mulher para si quando quiser. E mais, aprendem que só são homens com H maiúsculo quanto tomam o maior número de mulheres possível para si. Essa é a mensagem que é passada em toda parte, desde a Bíblia, até repaginada em qualquer comédia romântica blockbuster da Netflix. E meninos aprendem então a terceira lei do patriarcado, que é qual a estratégia para manter a dominação sobre mulheres, e sobre tudo mais que quiserem.
  3. a violência é o recurso para transitar no mundo
    meninos aprendem que a violência e a agressividade são características não só aceitas, mas desejáveis e valorizadas, na sua personalidade. São incitados a demonstrar uma pretensa “virilidade” traduzida em um comportamento agressivo, dominante, impaciente, vendido como característica “intrínseca” a “machos”, como sinal de “muita testosterona”. Meninos são estimulados a “não deixar barato”, a “falar grosso”, a gritar para se impor. Toda a nossa cultura vende a ideia de homens “fortes”, “conquistadores”, “heróis”, sempre usando a violência. Intimidar, humilhar, bater e matar pessoas são recursos validados desde sempre como forma de “defesa”. E meninos são massacrados com essa ideia, precisam o tempo inteiro provar sua “virilidade”, “que não choram”, “que não tem frescura”, “que aguentam”, que “não são mulherzinhas”. Meninos que não demonstram força, agressividade, disposição para violência, impiedade, são rejeitados, humilhados, taxados de “afeminados”. Quando não agredidos, “para aprender”. Porque é através da intimidação e do medo, que meninos aprendem que devem buscar o que querem. Para homens ser amado, respeitado é o mesmo que ser temido. E eles esbaldam-se nessa sensação de onipotência que essa sensação de poder confere, e protegem uns aos outros em sua violência, são cúmplices, omissos. Porque são irmanados na profunda desintegração de toda sua sensibilidade e empatia, o preço que pagam para receber os privilégios do patriarcado.

Essas três regras, em conjunto, organizam o comportamento dos homens no mundo. Meninos crescem realizando a soma desse bombardeio incessante de mensagens que dizem o tempo inteiro: “você é especial apenas por ser menino”, “meninas são inferiores”, “você deve ser forte, você deve ser vencedor, você deve dominar o inimigo”, “você não pode aceitar que te desafiem”, “você não deve aceitar não como resposta”. E como resultado concluem que “você é um ser superior às mulheres e portanto pode usar a força e a violência para dominá-las”, ou “você deve sempre ser atendido em todos os seus desejos e nunca deverá ser frustrado, principalmente por uma mulher, não permita que isso aconteça”, ou “é você e os seus desejos que importam e você deve sempre cuidar de si, e não se preocupar com mais nada”, ou “mulheres existem para servi-lo e nada mais”, ou “você é homem e pode fazer o que quiser e nenhuma mulher poderá impedi-lo”.

Homens aprendem que são os donos do mundo, que podem e devem conquistar tudo e que mulheres são seu espólio de guerra.

E portanto, se há um caminho possível na educação de meninos para um mundo menos sexista ela está em começar a combater esses valores que são incrustrados desde o nascimento. A ideia de que são especiais demais apenas por terem um pênis. A ideia de que meninas são seres desimportantes, inferiores, indignos e sulbalternos e toda a misoginia insidiosa que a sociedade injeta na veia, e principalmente o repúdio da violência como linguagem de estar no mundo. Meninos precisam ativamente repudiar e combater a agressividade dos seus pares, abandonarem a ideia de que tudo podem apenas porque querem, porque gritam, porque batem, porque intimidam. Aprender a transitar pela via do diálogo, aprender a lidar com a frustração, com a recusa, com a rejeição, recusar a onipotência oferecida pelo patriarcado.

E minar esses valores passa pela vigilância constante, pelo reconhecimento, nomeação e crítica. O que significa dizer o tempo inteiro ao seu filho “isso que você está vendo parece bom, mas é errado porque está te ensinando que (insira aqui alguma lei do patriarcado). E esse valor tem como resultado um mundo em que meninas e mulheres são exploradas e mortas. E queremos um mundo melhor que esse.” Difícil? É sim. Funcionará? Não sei. Mas é o melhor que temos pra hoje para nossas crianças. Olhar de frente para o problema e continuar lutando.

Meu filho precisa de bons amigos

Eu sou feminista, e sou mãe de um menino que hoje tem 8 anos e cresce para meu orgulho e espanto como um produto perfeito das disputas diárias que travo contra o patriarcado na sua socialização.

Ele é um menino doce, sensível, engraçado e com poucos amigos possíveis porque eu o ensinei a repudiar a linguagem da violência nas suas relações. É o que percebo que ele vem tentando fazer. E isso já está cobrando um preço.

Meu filho não se enturma muito com os outros meninos. E também não encontra lugar junto das meninas. Na escola, a esta altura, quase todas as brincadeiras envolvem brigas, disputas e bullying. Ele acha tudo “muito violento” e já sofre suas primeiras punições, sendo ostracizado, ou então abertamente ofendido por seu comportamento um tanto desengajado desses dramas.

“Mamãe, na escola ficam me xingando quando eu não quero brigar”, ele me conta. “E você fica chateado?”, eu pergunto. “Não. Eles são muito violentos.” Ele responde. 

Um lado meu sente orgulho. O outro lado sente a dor de saber que ele está sendo rejeitado, que está sendo provocado, está solitário, precisa encontrar um lugar para si no meio dessa balburdia.

“A vida é uma selva, meu filho”, eu digo. Ele ri. Não sabe que eu estou falando muito sério. 

O meu filho precisa de bons amigos. Acho que é por isso que eu passo os dias dizendo as outras mulheres que é possível socializar crianças com mais amor, menos violência, mais consciência. Eu não sei por quanto tempo ele vai sustentar os valores que vamos ensinando, em nome de não se sentir um outsider. Em nome de participar do pique-pega. Não é justo que eu tenha que entregar a alma e o coração do meu filho a este sistema tão injusto, que vai devorá-lo, que vai consumi-lo e vai cuspir de volta um homem sem alma, que tem a violência e dominação como linguagem de estar no mundo para que ele possa ter alguns amigos.

Eu me recuso a criar um homem escroto para ele ser “aceito”. Eu me esforço todo dia para que meu filho possa ser uma pessoa melhor em um mundo melhor, mas eu também preciso convencer outras pessoas sobre isso. Que vale a pena criar crianças melhores. Para que todas essas crianças que hoje estão sendo criadas de um jeito diferente, por corajosas mulheres que vão tateando, meio aterrorizadas, ensinando-as a ir contra a corrente, possam um dia se encontrar, se reconhecer, saber que não estão sozinhas. Como suas mães, em algum momento também se encontraram, e também souberam. 

Eu não temos realmente certeza que isso vai dar certo. Mas, qual a outra opção? Como conhecer todo o horror que representa crescer numa estrutura patriarcal, como olhar para si e ver tudo que te foi tirado, toda a violência que sofremos, como podemos criar nossos filhos impassíveis depois que a gente aprende a ver o que fizeram de nós? Não é como se eu quisesse provar um ponto, eu apenas tento, todo dia, proteger o meu filho desse trator que se aproxima chamado patriarcado.

E eu sei. Eu sei que não posso te proteger completamente, meu filho. Eu não tenho controle. Eu não posso evitar que você seja atingido por essa correnteza, eu só posso lutar com as armas que eu tenho que é te ensinar a ver os sinais, te ensinar a sobreviver na selva e quem sabe arregimentar companheiros, quem sabe criar uma tribo, a famosa tribo, que é necessária para criar uma criança.

Precisamos ter coragem de ensinar nossos filhos a serem mais conscientes, críticos e firmes no enfrentamento das mazelas desse mundo, mas também precisamos entender que essa não é uma trajetória fácil, que precisamos estar juntos. Que quando caminhamos juntos é mais fácil, faz mais sentido.

Como ensinar aos meninos sobre hábitos de higiene?

Este é um pequeno manual de instruções para vida – para meninos  e homens. E porquê uma manual tão básico se torna necessário, para não dizer imprescindível? Acompanhem comigo.

A divisão do trabalho, neste mundo patriarcal, obedece a uma lógica de hierarquia sexual onde todas as tarefas consideradas “produtivas”, “ativas”, são de domínio dos homens, e todas as tarefas da esfera “reprodutiva”, “passiva”, são relegadas às mulheres. Dessa forma, há um número infindável de atividades que são classificadas como sendo “coisas de homem” ou “coisas de mulher”.

Como a sociedade é hierarquizada, homens sendo dominantes e mulheres dominadas, tudo aquilo que está na esfera do “masculino” é importante, valorizado, desejado, ou aceitável, e tudo aquilo que está na esfera do “feminino” é considerado inferior, menor, desimportante, ou um sinalizador de fragilidade.

Uma das funções da mulher na sociedade é ser um objeto que deve ser permanentemente belo e desejado. E mulheres são orientadas, incentivadas e “premiadas” para estarem permanentemente mantendo-se dentro de um determinado padrão. Mulheres sabem que seu corpo é seu principal atributo de valorização e que ele é medido e avaliado em cada pedaço, como carne no açougue. Então o corpo feminino é sempre alvo de intensos “cuidados”, e precisa sempre estar “impecável”: limpo, depilado, macio, cheiroso. E inclusive, como resultado direto disso, temos mulheres que são tão obcecadas com os cuidados do corpo a ponto de achar que coisas absolutamente naturais como seus pelos, são “anti-higiênicos”. Que acham que suas vaginas “cheiram mal”. Que acham que unhas não-manicuradas são sinal de “desleixo”.

Dessa forma, limpeza, higiene, cuidados básicos com o corpo e a pele acabam não sendo tão associados a saúde, e sim a resultados de beleza. E beleza, estar bela, é uma preocupação feminina, e portanto vista como “fútil”, “inferior”. E como pensar em limpeza e cuidados é “coisa de mulher”, do outro lado temos homens que são incentivados a serem completamente relapsos com seu autocuidado ou até constrangidos se demonstram asseio, que é confundida com “vaidade” e portanto “frescura”.

E o resultado prático disso? Homens que tem zero preocupação com cuidados mínimos de higiene corporal e que cultivam com orgulho e como prova de masculinidade a imagem de “porcalhão”. Quando mais tosco e rude, mais “macho” e celebrado entre os pares. Temos homens que mal se preocupam em tomar banho e ostentam por aí cuecas freadas com a maior naturalidade do mundo, ignorando que isso acontece por sua inabilidade (e preconceito) em limpar a própria bunda. Que têm um estado geral de cabelos, dentes, unhas, sempre de discutível a deplorável, além de outros hábitos bastante reprováveis como sempre deixar banheiros imundos por onde passam e a ideia de que tem permissão para urinar em qualquer lugar.

E a sociedade — machista — incentiva, ainda que não abertamente, esses hábitos, deixando bem claro para homens que quanto mais afastado de qualquer característica que possa ser associada com o “feminino”, mais “macho”, mais “viril” ele é.

pequeno manual de instruções para a vida


E essa ideia começa a ser formada desde que eles são meninos, quando são muito menos cobrados para serem asseados ou quando são constrangidos (parece “viadinho”) se demonstram qualquer traço de preocupação com cuidado pessoal que possa ser confundida com “vaidade feminina”, tipo pentear os cabelos.

Dessa forma aqui vão algumas regras que parecem óbvias a serem aplicadas por todos os seres humanos, mas acredite, não o são por boa parte da metade da população nascida com pênis . E que homens podem fazer o seu check-list, e todos podem usar como um guia do que meninos não podem deixar de aprender, para a vida.

Higiene corporal e autocuidado em geral

  • Use um bom produto para o cheiro de suor das axilas.
  • Use algum produto para o suor dos pés.
  • Use um perfume, se gostar.
  • Aplique filtro solar todos os dias pelo menos no rosto.
  • Use filtro labial se julgar necessário.
  • Penteie os cabelos sempre que estiverem despenteados.
  • Escove os dentes pelo menos 3 vezes por dia. Use fio dental e visite o dentista regularmente para cuidar da saúde bucal.
  • Lave o rosto quando estiver com excesso de oleosidade e considere visitar um dermatologista.
  • Limpe as orelhas com regularidade para além do banho.
  • Corte as unhas, das mãos e dos pés.
  • Apare os pelos. Não precisa depilar nem raspar se não quiser e é até melhor que não faça. Pelos são proteção para o corpo. Mas mantenha-os aparados e limpos. Todos eles. Da axila, da virilha, do nariz, da barba.
  • Atente se possui caspa, dermatite seborréica, piolhos, etc para usar os produtos adequados para tratamento.
  • Beba água.
  • Busque dormir um número adequado de horas para um devido descanso diário.
  • Alimente-se de maneira balanceada e de acordo com suas necessidades fisiológicas.
  • Exercite-se minimamente.
  • Tome pelo menos um banho por dia. Do jeito certo.


Tomando banho

  • Tome pelo menos um banho por dia, com bastante sabão, lavando todas as partes do seu corpo. Todas.
  • Se você não sabe o que significa tomar um banho decente, saiba agora: Lave todo o corpo, tórax, abdômen, ombros, braços, pernas, costas, mãos, pés. Use uma esponja, esfregue, para tirar o acúmulo da sujeira.
  • Lave o seu pênis. Todo ele, afaste a pele do prepúcio e higienize com sabão até tirar todo e qualquer resíduo.
  • Lave o seu ânus com sabão até ter certeza que está realmente limpo, sem nenhum resíduo de fezes.
  • Lave o rosto com sabão para tirar o excesso de oleosidade.
  • Lave as orelhas pois elas acumulam cera de ouvido na parte exterior.
  • Lave os cabelos com xampu e um condicionador adequados ao seu tipo de cabelo, e lave-os pelo menos a cada 2 dias.
  • Enxugue-se completamente.
  • Verifique se as roupas não estão muito suadas, com mal cheiro, sujas, antes de vesti-las novamente, caso queira repeti-las.
  • Troque de cuecas todos os dias mesmo que elas aparentem estar limpas.


Usando banheiro

  • Aprenda definitivamente como se usa um banheiro. Ao urinar, lave as mãos antes de tocar no seu pênis;
  • Levante a tampa do vaso sanitário ou se você acha que é tão ruim de mira assim, urine sentado. Apenas encontre a melhor maneira para não molhar tudo porque depois é você quem deverá limpar a bagunça que fez.
  • Caso respingue para fora do vaso sanitário, limpe tudo com o papel higiênico.
  • Enxugue o pênis após urinar para tirar os resíduos de urina.
  • Lave as nádegas se for possível após defecar. Se não for possível limpe o ânus e arredores com papel higiênico até o papel sair limpo, o que significa que não resta nenhum resíduo. Não há nenhum problema em tocar o próprio ânus. Isso não afeta sua sexualidade. Há problema em ficar sujo a ponto de manchar a cueca por não ter sido capaz de limpar a própria bunda.
  • Cultive o hábito de observar o que sai de você, isso é um sinal de como vai a saúde. Urina escura e com odor forte por exemplo pode significar que você está bebendo pouca água. Fezes com cores e formatos pouco convencionais também pode significar algum problema de digestão ou indicar que sua alimentação vai mal. Presença de sangue pode significar algum problema mais grave. Aprenda a se observar.
  • Dê descarga.
  • Abaixe a tampa.
  • Lave as mãos.
  • Certifique-se que deixou o ambiente na mesma ordem que o encontrou.
  • Não urine no meio da rua. Não saia colocando seu pênis para fora em ambientes públicos. Isso é crime, é atentado violento ao pudor. Tenha o mínimo de vergonha na cara. Acredite, você é capaz de administrar a vontade até conseguir um banheiro. Mulheres fazem isso o tempo inteiro, você também pode, seu trato urinário não tem nada de especial ou diferente.


Dicas gerais

  • Ninguém está interessado nas suas funções gastro-intestinais. Embora sejam atividades naturais que o corpo executa, não precisam ser anunciados, festejados, nem são motivos de riso ou troça. São eventos absolutamente comuns a todos. Homens e mulheres arrotam e peidam. E como muitas vezes produzem um cheiro desagradável, é desejável — se possível — tentar buscar um lugar discreto e mais afastado para poder peidar e arrotar em paz sem perturbar ninguém com seus sons e odores.
  • A mesma lógica é válida para escarradas. Não cuspa no chão! Se não houver um banheiro, uma lixeira, um bueiro, ou nenhum lugar mais adequado para cuspir, faça num lenço, num guardanapo, ou coisa parecida e jogue fora quando for possível.
  • Não espirre e tampouco tussa nas pessoas! Tente usar a dobra do cotovelo.
  • Não fique tocando sua genitália em público. Se você está com algum incômodo, busque um lugar discreto para resolver. Se você sente coceira, e ela é constante, busque um médico. Ninguém quer ver você coçando e ajeitando o saco o tempo todo. Isso não é viril, não é sexy. Na verdade é bem desagradável e assustador.
  • Sente de pernas fechadas. Isso não é tanto sobre higiene mas sobre percepção corporal. Você não tem ovos de páscoa no lugar de testículos. Ocupe um lugar proporcional às dimensões do seu corpo, sem mais, nem menos.
  • Manter-se limpo e bem cuidado, higiene e asseio não são sinais de falta de “masculinidade”, são sinais de civilidade e auto cuidado. É sua e apenas sua a responsabilidade de cuidar do seu corpo. Não é da sua mãe, não é da sua namorada, não é da sua esposa, não é de nenhuma mulher. Isso é o mínimo que você deve fazer por si mesmo para conviver em sociedade, ser capaz de manter uma aparência limpa e asseada, ser capaz de cultivar hábitos que vão contribuir para a sua saúde. Isso não é falta de masculinidade, isso é auto-cuidado e inteligência emocional.

Ensinem aos seus meninos. Não é óbvio. A sociedade os desestimula e os desencoraja de serem asseados. A sociedade estimula e premia que eles sejam desleixados, como se fosse muito engraçado. Ele vai assistir filmes de homens que arrotam, cospem no chão, peidam em público, e todo mundo ri. Ele vai ser ridicularizado e chamado de “menininha” se demonstrar muito asseio pessoal. Meninos são abandonados muito precocemente na instrução de como cuidar de si mesmo primeiro pela impressão de que eles são autorizados a ter péssima higiene pessoal, segundo porque acreditam que sempre haverá uma mulher (primeiro uma mãe e depois uma esposa) garantindo que eles tenham um mínimo de asseio.

Meninos são perseguidos se demonstram “vaidade” e ainda recebem péssimos exemplos de todo lado, inclusive do próprio pai e outros homens da família. Não seja esse cara. Não seja um exemplo tosco para nenhum menino que o esteja observando. Ensinem meninos a serem asseados e cuidadosos com seu próprio corpo. A observarem e cuidarem da própria saúde. Por eles mesmos. Sem delegar essa responsabilidade. Sem achar que isso é “coisa de mulher” e que alguma mulher deverá estar tomando conta disso para ele por toda a sua vida.

E não permita que sua menina aceite a companhia de homens que não tenham noção de autocuidado e cuidado do ambiente. Que não tenham autonomia. Que ela terá que ficar lembrando ou cobrando coisas básicas como tomar banho, escovar dentes, abaixar a tampa do vaso que ele mesmo urina. E não faça isso pelo seu companheiro também, ele não é uma criança. Isso é maternidade compulsória. É a ideia de que mulheres tem que dar conta de homens como se eles fossem eternos bebês. É a noção de que temos que aceitar qualquer coisa de homens em troca de migalhas de atenção afetiva, passando por cima do nosso próprio

E finalmente, é uma vergonha ter que escrever um texto desses pedindo que homens façam o básico, tenham um mínimo de asseio pessoal, que é algo que renegam por achar que é “coisa de mulher”. Não existe “coisa de homem” e “coisa de mulher”. E isso vale para tantas coisas que muitas vezes nem observamos. Vejam a que tipo de coisas a misoginia (ódio às mulheres) da nossa sociedade nos leva. Podemos ser melhores que isso.

Precisamos de um pacto contra a violência na criação de meninos

Precisamos de um pacto contra a violência na criação de meninos, criar filhos sob a sombra do patriarcado é uma tarefa brutal. Porque a lógica do patriarcado é a lógica da dominação masculina sobre tudo e todos, e isto tem um preço. Subtraímos a humanidade dos nossos meninos para que eles se tornem homens que possam perpetuar a estrutura de hierarquia que temos estabelecida.

Eu sempre me pergunto onde estão os homens bons na sociedade em que vivemos. Mulheres são dominadas, humilhadas e massacradas das formas mais vis e homens são os responsáveis por isso, seja agindo ativamente ou por completa omissão. Por que compactuam? Como não se indignam? Por que não se rebelam contra seus pares?

Eu olho para o meu filho, ele é um menino tão doce e amoroso. E eu vejo todas as mensagens que ele recebe, todo dia, o dia inteiro, dos desenhos animados, jogos de vídeo game, brincadeiras, filmes. Todas as imagens e narrativas onde um homem — ainda que por “bons motivos” — age sempre em uma escalada de violência e agressividade e no final é celebrado como herói. Eu sei, eu entendo que pode parecer meio entediante ver o Batman e o Coringa sentados conversando sobre suas dissidências ou assistir o Super Man conduzindo uma investigação policial e prendendo o Lex Luthor em flagrante sem precisar atirar nem um raio laser com os olhos, mas será que não estamos condicionados demais e condicionando nossos meninos a celebrar apenas a agressividade como método para lidar com conflitos?

Sim, nossos meninos. Isso não é um problema de garotas, que são as vítimas aqui. Meninas crescem assistindo Ursinhos Carinhosos resolverem as coisas com um arco-íris que sai de suas barrigas. Temos aliás uma questão contrária que é a ode à passividade e submissão. Meninos aprendem a ser extremamente agressivos e dominantes, meninas aprendem a ser extremamente dóceis e passivas.

Aprendem. Isso é o importante a se ressaltar. Passividade e agressividade não são características intrínsecas do sexo biológico. Isso são traços de temperamento que estão mais ou menos presentes em todas as pessoas e que vão sendo socialmente moldados, sendo reprimidos ou estimulados.

Se você tem filhos meninos faça esse exercício por uma semana: atente para todas as mensagens que esta criança recebe celebrando a violência como uma coisa boa. Observe como nas histórias para meninos quase tudo se resolve envolvendo uma briga, uma luta, uma competição, uma disputa. Como nos jogos essa dinâmica é levada ao extremo. Como na vida os meninos são tempo inteiro cobrados para serem fortes, corajosos, não levar desaforo para casa. Como uma aventura só é uma aventura se necessariamente houver um enfrentamento que envolve destruir alguém ou alguma coisa.

Nossos meninos são privados de afetividade à medida que crescem. Beijos, abraços, carinhos, consolo, conforto. Gradualmente vão perdendo acesso a tudo isso em nome de se “tornarem homens”. Se tornar homem na nossa sociedade é trocar a capacidade de amar pelo poder. É desalmar-se para ser capaz de dominar. É desejar-se super-humano, dotado de poderes, especial e admirado por todos. Porque ele é forte. E ser forte na nossa sociedade necessariamente significa saber ser violento.

Qual o preço que estamos pagando, enquanto sociedade, pela privação de afetividade e doutrinação da agressividade que submetemos nossos meninos na sua socialização de homens dominantes sob o patriarcado?

Vocês já notaram que mais praticamente a totalidade dos perpertradores de tiroteios em massa é homem? Que mais de 90% dos estupradores e abusadores sexuais é homem? A maioria dos serial killers? Vocês nunca se perguntaram por quê? Nunca se perguntaram porque para homens é tão naturalizado o ato de matar?

Homens não nascem assim. Meninos não nascem assim. A sociedade patriarcal faz isso com eles porque é pelo uso da violência que se mantém a dominação. E todos pagamos um preço demasiadamente alto.

Um pacto pela não violência é também um acordo de armisticio da guerra que homens travam, homens brancos dominando a todos (inclusive outros homens negros), contra as mulheres. É um cessar fogo que vai permitir que finalmente haja paz e equidade nas relações. Um acordo em que todos ganham porque ninguém aguenta mais tanto sangue derramado.

E é possivel realizar essa recusa se compactuarmos todos, os adultos de hoje, com valores melhores para as nossas crianças. Se aceitamos rever nosso sistema de crenças. Se reconhecermos que este modelo faliu, que estamos matando, que mesmo para homens em dominância, a despeito de todos os privilégios que isto traz há um preço sendo pago que pode ser alto demais. Podemos começar lentamente uma correção de rumos.

Não se nasce homem. Torna-se. e homens também podem tomar consciência do que foram tornados, abrir mão dos privilégios e se juntar nesse pacto pelos nossos meninos. para que possamos, aos poucos, sermos tornados homens e mulheres que recusam a violência e a hierarquia.

Nota: recomendo a todos para ontem:

The Mask You Live In

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Como meu filho aprendeu que era um menino

Sempre me perguntam como eu ensino meu filho sobre gênero. Uma boa resposta é a história sobre como meu filho aprendeu que era um menino. É muito fácil constatar que ensinamentos sobre estereótipos de gênero são absolutamente desnecessários para crianças.

Até os 3 anos meu filho não sabia “oficialmente” que era um menino. Nunca tinha surgido uma oportunidade ou a necessidade que eu lhe desse essa informação.

Vamos pensar um pouco: que diferença faz para uma criança, principalmente uma muito jovem, se ela é menino ou menina?

Uma vez, ele tinha cerca de dois anos e estava vendo um desenho aleatório na TV onde tinha um casal de gatos. Os animais eram desenhados de maneira absolutamente igual sendo diferenciados somente por um efusivo batom vermelho e um par de longos cílios (recurso usado para demarcar qual seria a fêmea). Num determinado momento, só a fêmea ficou enquadrada na tela e meu filho disse “olha o gatinho”. Meu primeiro impulso foi corrigir e dizer “é uma gatinha, ela é menina”, mas me contive. O que eu ia dizer para ele ali? Que aquela gata era fêmea porque usava batom? Que era porque tinha cílios compridos e olhos oblíquos para simular sensualidade? É isso que define uma fêmea? Batom nos lábios? Que diabos isso queria dizer? E a ausência de sentido dessa explicação fez com que meu alerta vermelho acendesse para que eu não colocasse meus pés na longa estrada do reforço dos estereótipos de feminilidade e aí eu me calei. Ele tinha 2 anos, em nada, absolutamente nada, a informação que eu ia dar espontaneamente sobre ser um menino ou uma menina, ou mesmo se os amiguinhos com que ele brincava eram meninos ou meninas faria diferença para ele.

Já nessa época eu comecei a instruí-lo sobre o próprio corpo, com noções de prevenção de abuso, ensinando o nome de todas as partes corpo, quais deveriam ter mais atenção, ser mais protegidas. Isso aumentou a consciência corporal dele e o um dia, no banho, veio a pergunta inevitável: “mamãe, cadê o seu piupiu?”. “Eu não tenho piupiu, tenho “perereca” (nos meus sonhos engajados eu planejava dizer que mulheres tem “vulva” bla bla bla, mas foi o que saiu). Meu filho fez alguns instantes de silêncio e a questão definidora, que importa, surgiu: “por que?”. “Porque eu sou uma menina. Meninas tem perereca e meninos tem piupiu”. “O papai tem piupiu?”, ele perguntou. “O papai tem piu piu.”, respondi. “O papai tem piupiu, ele é menino. A mamãe tem peleleca (sic), ela é menina!”, ele aferiu.

A partir daí seguiu-se um período entre engraçado e constrangedor porque ele passou um tempo perguntando para pessoas mais próximas se elas tinham “pinto” ou “perereca” e checando a informação sobre ser menino ou menina. E aos poucos ele passou a observar também outros caracteres secundários como presença de barba ou seios.

Isto não significa, tampouco, que eu o estava criando “sem gênero”, ou coisa parecida, isso é impossível. Crianças são bastante perceptivas e muito rapidamente ele percebeu que ele mesmo era um menino, e que o grupo de pessoas que era classificado como “menino”, a qual ele pertencia, tinha códigos próprios de comportamento e vestimenta, assim como o grupo que era classificado como “menina”. Ele aos poucos (para o bem e para o mal) vai percebendo qual é a sua “turma”.

Eu, da minha parte, sempre busquei comprar todo tipo de brinquedos e sempre privilegiei critérios como conforto e qualidade para escolha de suas roupas, por exemplo, mas — obviamente — acabo comprando suas roupas prioritariamente na seção masculina (embora ela vista feliz várias camisetas das primas). Quando a gente se esforça (e realmente demanda muito esforço, muita desconstrução pessoal) para socializar uma criança minimizando os impactos dos estereótipos de gênero, é meio assim.

Na real, a gente entende que não existe nem uma pergunta para qual a resposta seja: “porque você é menino / menina”, assim como nenhuma orientação específica a ser dada . Exceto para questões biológicas específicas. Por exemplo: “por que eu faço xixi sentada?”, “porque você é menina, tem uma vulva, e anatomicamente é mais confortável fazer assim, meninos podem fazer das duas maneiras, em pé e sentado, porque eles têm um pênis que facilita anatomicamente”. É isso. Todo o resto (“meninos não choram”, “meninas não gritam”, “meninos não brincam de boneca”, etc, etc) são estereótipos, completamente ausentes de sentido lógico, que não seja condicionar o comportamento dessas crianças para dominação/submissão.

Meu filho agora está com 6 anos e há coisas que — até agora — ele conseguiu passar em branco. O mundo dele é muito mais dividido em um mundo de crianças e adultos que de meninos e meninas. Cores, por exemplo. As preferidas dele são azul e vermelho, e ele acha rosa uma cor linda. Ele gosta de Pokemon tanto quando da Barbie Sereia (e acha o cabelo delas “lindo”). Tem vários heróis e heroínas. E uma vez eu perguntei “me diz uma coisa que seja uma coisa de menina?”, e ele respondeu: “não tem nada, só a perereca”. Eu ri. Tá eu também chorei. Porque isso é uma vitória pessoal que eu trago — até aqui. Amanhã eu não sei. É uma batalha diária. A vida está aí, socialização não é algo que a gente consiga controlar completamente. Existe o meu menino, e existe o mundo. E o mundo é patriarcal e ardiloso.

Mas nós podemos sim, ensinar a nossas crianças que elas são meninos e meninas, por um detalhe anatômico que não faz a menor diferença pra elas porque são crianças. E podemos sim poupá-las o máximo possível da socialização de gênero, minimizar este impacto enquanto conseguirmos. Deixar pelo menos a infância delas mais leve, mais rica de experiências. Porque o que gênero ensina é sobre opressão, não é sobre liberdade. É sobre meninos serem fortes e meninas serem fracas. Sobre meninos odiarem rosa — e odiarem meninas. É sobre meninas serem princesas lindas, frágeis, à espera de um menino que vai querer casar com elas. Sobre meninos serem agressivos uns com os outros. Gênero ensina sobre quem manda e quem obedece. Ensina hierarquia. E crianças são apenas crianças. Nada disso faz sentido ou faz falta pra elas. Somos nós adultos que, irrefletidamente, fazemos um esforço continuado nessa domesticaçao. Capatazes que somos, do patriarcado. Adultizando crianças, querendo transformá-las em homens e mulheres em miniatura, em hábitos, vestuário, e comportamentos.

Sexo e gênero são coisas bastante distintas que tem — propositadamente — se confundido na mente de todas. Precisamos demarcar essa diferença. Porque nosso sexo não deveria nos condicionar a nada. Não condiciona como somos, o que gostamos, sentimos, queremos. E gênero é uma opressão. É sobre cumprir um papel social baseado no seu sexo. Estereótipos de gênero são uma prisão. Vamos criar nossas crianças livres para serem o que precisarem ser para estarem felizes. É mais simples do que parece, basta tentar.

20 coisas que você deve começar a dizer ao seu menino

Há algumas coisas que você deve começar a dizer ao seu menino durante sua socialização que certamente farão muita diferença sobre a maneira como eles irão para um mundo patriarcal que espera delas uma postura de dominação e violência contra mulheres. Vamos ver?

1. Não existem “coisas de meninos” e “coisas de meninas”

Você sabia que antigamente rosa era uma cor de menino e que o azul é que era uma cor de menina? Cores são apenas cores. Adultos é que inventam classificações arbitrárias que de repente mudam. Você tem o direito de escolher o que gosta e o que não gosta, entre roupas, brinquedos, o seu jeito de ser. Não é porque você não gosta das “coisas de menino”, ou prefere as tais “coisas de meninas” que tem alguma coisa errada. Ao contrário. É perfeitamente normal gostar de tudo um pouco com tantas opções legais que têm por aí. Se meninas gostam de bola, gibis, videogames, carrinhos e aeronaves, são boas em jogos de tabuleiro, jogos de montar, por que você não pode se divertir com bonecas, jogos de cozinha, pintura e tudo mais? E brincar de casinha, comidinha ou princesas é super legal sim. Se você pode brincar com tudo, por que brincar só com a metade? Não faz sentido não é mesmo? O bacana é poder todo mundo brincar junto. Meninas podem correr, pular, se sujar. Elas não são mais lentas ou mais frágeis. Excluir meninas das brincadeiras só faz com que não se aproveite toda a diversão possível. Meninos e meninas são crianças e não há diferença nenhuma entre vocês que seja importante.

2. Crianças não namoram

Você não tem” namoradinhas”. Crianças não namoram. Crianças brincam e estudam. E você não precisa se sentir coagido quando disserem que você tem que conquistar as meninas da escola. Adultos podem ser muito inconvenientes. Você não precisa ceder se alguma coleguinha disser que “quer namorar com você” ou que é sua “namorada”. Crianças são amigas umas das outras. Apenas isso. E adultos, de maneira nenhuma “namoram” crianças. Namoro é coisa entre adultos. Há pessoas adultas que namoram e pessoas adultas que não namoram, inclusive. Quando você crescer vai gostar de alguma pessoa e vai poder namorar com ela. Uma pessoa de cada vez. Porque namorar é ter compromisso com o sentimento da outra pessoa e isso deve ser sempre respeitado.

3. Ninguém pode tocar o corpo de ninguém sem consentimento

Seu corpo é apenas seu e não deve ser tocado por ninguém sem seu consentimento expresso. Você não precisa receber nem dar abraços ou beijos se não quiser. Se alguém tocar o seu corpo sem pedir sua permissão se afaste e diga “eu não quero que você me toque. Ninguém pode tocar no meu corpo sem a minha permissão”. E conte tudo para um adulto da sua confiança. E sempre peça permissão antes de tocar o corpo de alguém, principalmente o de outra menina. Para qualquer coisa. “Posso pegar sua mão?”, “Posso te abraçar?”. Sempre peça. E se a resposta for não, é não. Não insista.

4. Quando alguém diz “não”, é não. Sempre.

Quando uma menina diz “não”, ela realmente está querendo dizer “não”. Se ela ficar em silêncio e não disser nada, também considere como um “não”. Se ela disser “talvez”, na dúvida, igualmente será um “não”. Não insista. Sempre garanta que as meninas estejam confortáveis e que estejam consentindo nas suas ações para com elas. É ruim quando não podemos fazer algo que queremos, eu sei. Mas acredite, a frustração passa e você sobreviverá. Meninas não devem nada a você só porque você quer e elas tem o direito de proteger-se. Respeite se elas tiverem medo ou desconfiança. Isso não é sobre você é sobre a experiência de mundo delas. Escute-as, aprenda e respeite se elas forem incapazes de confiar em você. Não é pessoal.

5. Defenda meninas

Meninas não são mais fracas, ou mais frágeis, ou incapazes de proteger-se mas tem um mundo absolutamente violento contra elas. E precisam de apoio porque alguns meninos crescem e tornam-se homens verdadeiros predadores , perseguindo-as, machucando-as de muitas maneiras. Então fique alerta, se você vir alguma menina em dificuldades, seja qual for, ajude-a. Isso vai significar muitas vezes ir contra os seus amigos. Pode significar muitas vezes que você vai estar sozinho contra o seu próprio grupo. Mas significa também que você não estará compactuando com toda a violência que homens comentem contra meninas e mulheres. Defenda meninas pelo motivo certo. Não porque “você é homem” e deve protegê-las porque elas são “frágeis”, mas porque você é uma pessoa que sabe que esse grupo está vulnerável a ataques e precisa de toda ajuda possível.

6. A violência não é um recurso válido

Violência é apenas violência. É injustificável. E não só violência física, mas também a verbal, psicológica. Não sinaliza que você é forte e sim que você é incapaz de resolver qualquer questão de forma honrada, respeitosa e civilizada. É sinal de fraqueza e não de fortaleza. Eu sei que as pessoas ao seu redor estão o tempo inteiro querendo que você se mostre “forte” e “bravo”, e que parecem admirar quem é agressivo e violento, mas isto está profundamente errado. Não devemos nunca admitir que ferir outras pessoas é uma hipótese viável. Violência só traz sofrimento. Se você sentir raiva, o que é normal, pode extravasar por outros mecanismos, mas a sua raiva não te dá o direito de agir violentamente. E agir sem violência não te torna um “covarde”, te torna uma pessoa boa. E também nunca admita que ninguém cometa nenhum tipo de violência contra você. Nem física, nem verbal, nem psicológica. Defenda-se. Procure ajuda. Proteja-se sempre.

7. Você é um menino, não um homem

Sabemos que ser criança neste mundo é muito complicado. E que ser menino tem uma carga bastante difícil de lidar. Que os adultos cobram que você aja como um “homem” e exigem de você posturas que você nem entende direito o que significa. Mas se você se sentir ameaçado ou coagido, seja por qualquer motivo, não guarde segredo. Conte conosco. Nós sempre acreditaremos em você e vamos ter proteger. Nós não queremos que você “aja como um homem”, isto é uma bobagem. Queremos que você seja criança, experimentando o mundo e descobrindo aos poucos o que você é, sua personalidade, seu temperamento, o que gosta ou não. Você não tem que ser nada agora exceto um aprendiz atento, não tem que atender expectativa de ninguém. Você ainda está crescendo, não deixe que esta cobrança sem sentido te defina.

8. Saiba cuidar de si mesmo

É importante saber escolher, comprar e cozinhar os próprios alimentos. Cuidar da limpeza da própria roupa. Saber como manter limpa a casa onde vive. É importante saber como cuidar-se. Ninguém tem nenhuma obrigação de fazer isso por você e se um dia você estiver numa relação de casamento essas responsabilidades devem ser divididas, portanto você deve saber executar a sua parte. Eu sei que você pode se sentir tentado a achar que meninas é que são responsáveis pelas tarefas cotidianas e domésticas, porque é muito do que você vê em toda parte. Mas isso não é correto e nem justo. Talvez você encontre meninas que acreditem que é obrigação delas fazer as coisas por você. Não permita isso, isso é exploração. A verdadeira autonomia tem a ver com você ser capaz de cuidar completamente de si sem transferir essa responsabilidade para ninguém, muito menos para mulher alguma. Responsabilize-se e aprenda a cuidar de si mesmo.

9. Meninas não são definidas por como se parecem

Meninas são inteligente, espertas, engraçadas, amigas, divertidas. Tem todas as qualidades e defeitos que qualquer pessoa tem. Meninas são pessoas. Amigas, companheiras de aventuras. A aparência delas não é importante. Ser bonito ou ser feio não é a principal qualidade de ninguém. E a aparência de uma menina não é um assunto que lhe diga respeito. Assim como as roupas que ela veste. Meninas não existem para serem objetos decorativos do ambiente. Se ela é alta, baixa, gorda, magra, branca, negra, realmente não é da sua conta. Nada disso define quem uma menina é. Eu sei que você será bombardeado com imagens e estímulos que vão te fazer cobiçar meninas de um determinado padrão, e que você vai aprender que o corpo delas é o mais importante a ser desejado. Mas focar nisso fará apenas que você deixe de se concentrar na parte mais importante de qualquer pessoa que é sua personalidade, inteligência, ideias, e a maneira como essa pessoa consegue fazer você se sentir com o jeito que ela tem. Meninas são pessoas e não coisas. Respeite-as sempre como o ser humano completo que elas são.

10. O universo não gira ao redor do seu umbigo

O mundo vai fazer você pensar que está no centro do universo. Tudo o que você lerá, assistirá, ouvirá falar, tem a ver com pessoas como você. Outros meninos. Suas conquistas, suas descobertas. Você verá outros homens em cargos importantes, vivendo aventuras, protagonizando por toda parte. Sim, é muito fácil acreditar que tudo é sobre você, seus sentimentos e suas possibilidades. Mas não é. Mulheres não possuem o mesmo status que os homens porque elas foram proibidas por muito tempo de fazer as mesmas coisas que os homens sempre fizeram. E com muita luta elas buscam ocupar espaços na sociedade em que vivemos. Então entenda que você não é melhor, nem especial, nem mais importante. Você apenas possui uma coisa chamada privilégio, que faz com que você seja tratado de forma melhor por todos simplesmente porque nasceu um menino.

11. Você não precisa disfarçar seus sentimentos

Nós somos responsáveis por lidar com nossas próprias emoções e nosso grande desafio é conseguir nos conhecer para que elas não nos levem a tomar más decisões. Somos pessoas, falhamos, estamos aqui aprendendo uns com os outros a sermos pessoas melhores. Não tenha medo de expor seus sentimentos. Converse, entenda o que é tristeza, alegria, raiva, dor, angústia, medo, aprenda a reconhecer isso dentro de si. Seja autêntico e honesto consigo mesmo. Você não tem que provar nada para ninguém escondendo ou fingindo seus sentimentos. Você não precisa substituir sua dor, sua confusão, tristeza, pela raiva cega apenas porque esse é o único sentimento desejado em meninos. Deixe sua sensibilidade, delicadeza, amabilidade e gentileza transparecerem, não significa que você é nada, apenas que é uma pessoa empática e muito bacana. Fragilidade não é defeito. Sensibilidade também não. Muito pelo contrário. Nos dias de hoje, essas características são fundamentais pra gente viver juntos em sociedade.

12. Você não precisa disfarçar sua personalidade

Seja educado. Educação, polidez e gentileza são virtudes importantes para todos os seres humanos conviverem em sociedade. Mas você não precisa fingir ser mais extrovertido, ou firme, ou ativo, ou viril do que você é. Você não tem que atender as expectativas de ninguém mostrando ser alguém que você não é. Você não precisa “agir como um homem”, afinal o que isso significa? Você é um menino. Uma criança. Uma pessoa em formação. Você não precisa se preocupar com nada além de aprender sobre o mundo, se divertir, brincar, e não tem que provar nada para ninguém. Você é amado exatamente do jeito que é e será amado sempre. Ninguém espera que você seja nada além de uma pessoa feliz que consiga viver na sociedade respeitando suas regras.

13. Saiba escolher seus amigos

Este é um mundo especialmente difícil para um menino viver em grupo. Os outros garotos vão impor regras de comportamento bastante equivocadas para que você seja aceito entre eles. Eles podem pedir que você maltrate outras pessoas, especialmente meninas. Vão incentivar você a provar sua “macheza” demonstrando uma abordagem profundamente abusiva para com o corpo e o espaço delas. Eles vão incitar você a humilhar e até agredir outros meninos que não se mostrarem tão “machos”. Vão querer que você demonstre “força” sendo agressivo com os outros e vão premiar esse comportamento fazendo você se sentir muito querido e admirado. Este é um preço que não vale a pena pagar, acredite. Saiba escolher amigos que prezem pelos mesmos valores que você e não tenha medo de afastar-se daqueles que comportam-se com agressividade e violência. Existe sim o que é o certo e o que é o errado. E maltratar pessoas certamente é uma coisa errada, por mais que isso seja exaltado em certos grupos. E não tenha medo de confrontar comportamentos dos seus amigos que você sabe que são inadequados. Afinal, de que lado você quer estar? Que tipo de garoto você quer ser?

14. Priorize mulheres

Existem mulheres por aí, que pesquisam produzem, constroem, inventam, criam, cantam, interpretam, escrevem. Eu sei que você está completamente acostumado a só ver homens por toda parte como protagonistas a ponto de acreditar que o mundo somente foi realizado por eles. Eu sei que tudo que você aprende sobre meninas é que elas são inferiores a você, mas isso é não é a verdade. A história é contada pelos vencedores e todo o legado das mulheres foi usurpado. Suas conquistas e descobertas foram apropriadas ou simplesmente escondidas. Muito do mundo que conhecemos foi realizado também graças a muitas mulheres que nos antecederam tendo o triplo de dificuldade que qualquer homem porque tiveram que enfrentar muita resistência. Portanto seja um aliado, priorize mulheres. Compre, assista , leia, contrate o trabalho de outras mulheres. Não acredite se te disserem que algo feito por uma mulher é inferior, ou imperfeito. Não boicote, desvalorize ou subestime o trabalho de mulheres. Coopere com elas.

15. Tenha responsabilidade emocional

Você vai ser estimulado a se relacionar com o maior número de pessoas que conseguir e ao mesmo tempo, como se isso provasse que você é uma pessoa muito poderosa. E a pressão pode ser tão forte que você se sentirá frustrado e rejeitado caso não consiga concretizar esse tipo de comportamento. Não caia no erro de assumir o papel de caçador e tratar os outros como se fossem uma caça. Permita-se viver boas histórias. Histórias que você gostaria de recordar com carinho no futuro. Relacionamentos são coisas complicadas que exigem dedicação, comprometimento e honestidade. Não tenha medo de ser verdadeiro e expor seus sentimentos. Seja honesto sempre. Aprenda a lidar com o fato de que algumas pessoas vão querer estar com você e outras simplesmente não vão querer, e tudo bem por isso. Ninguém te deve nada. Não te devem carinho, atenção, afeto. Não te devem cuidado. Não são sua propriedade. Ninguém tem obrigação de gostar de você ou de estar com você. E você deve respeitar e aceitar isso. E deve também respeitar o sentimento de quem se afeiçoar a você, não usando isso a seu favor. O nome disso é responsabilidade emocional.

16. A paternidade é um compromisso intransferível

Criar uma criança para este mundo é uma das coisas mais importantes que uma pessoa pode fazer. Embora você possa ter a percepção que cuidar de bebês é um assunto de mulheres, esta é uma tarefa também de homens. E se um dia você quiser viver a experiência de ter um filho saiba que esse é um compromisso irrevogável e intrasferível, da qual não podemos fugir. Ser pai é para sempre e um filho é uma coisa muito séria, é um ser vulnerável que estará contando com sua presença, apoio, cuidado e amor. E essa experiência pode ser incrível sim porque é realmente uma grande responsabilidade criar pessoas para este mundo.

17. Você pode amar quem você quiser

Pode ser que você cresça e goste de meninas, pode ser que você cresça e goste de meninos, pode ser que você goste dos dois. E não tem nenhum problema com isso. Basicamente, de quem você gosta ou deixa de gostar, com quem você se relaciona ou não, é um assunto particular seu. Respeite seus sentimentos e desejos e não os reprima. Ainda vivemos em um mundo que tem dificuldade de aceitar todas as formas de amor. E mais, vivemos em um mundo que quer fazer parecer que meninos e meninas se amarem é a única forma de amor possível, aceitável e “normal” de existir, e isso simplesmente não é verdade. Você é uma pessoa. E pessoas se apaixonam por outras pessoas. Precisamos entender e respeitar isso. Portanto saiba que para nós não importa realmente com quem você vai se relacionar desde que isso resulte numa história bacana que faça você feliz. E lembre-se de levar essa regra com você: com quem as pessoas se relacionam não é um problema seu. Nunca desrespeite ninguém por causa disso e nem permita que outros a sua volta o façam.

18. Entenda como os corpos funcionam

Conheça seu corpo. Cada pedaço dele, completamente. Aprenda como ele funciona. Aprenda onde dói, onde formiga, onde faz cócegas, onde relaxa, onde é muito bom. E aprenda sobre o corpo das meninas. O que há de igual e o que há de diferente. Saiba que meninas quando crescem possuem tantos pelos quanto você e que isso é tão natural nelas quanto é em você. Meninas tem cheiros, fluidos, gases, como você. Mais semelhanças que diferenças. Aliás, conheça a fundo as diferenças. Saiba como funciona seu sistema reprodutivo, e como funciona o sistema reprodutivo delas. Saiba que meninas são cíclicas, menstruam, entenda como e porquê isso acontece e como isso é fantástico. E saiba que acima de tudo que o corpo, qualquer corpo, não te pertence, é inviolável e merece absoluto respeito. Você vai sempre ser ensinado que o sexo é uma parte muito importante da sua vida e que você deve se preocupar com isso talvez mais do que você gostaria. Respeite a si mesmo, seu tempo, seus processos

19. Aprenda a amar mulheres

Eu sei, ninguém te ensinou como se ama meninas. Em toda parte você só escuta que elas são chatas, inferiores, frágeis. Que são fúteis, burras, só se interessam por coisas superficiais. O que você vê na televisão é que elas só servem para decorar o ambiente sendo belas. Que elas não servem para ser admiradas como pessoas, mas sim como um objeto bonito. Que elas se dividem entre as que vão te amar e servir e as que vão te rejeitar e fazer sofrer. Que elas devem cuidar de você não importa o que você faça. Eu sei que é difícil amar essa imagem que te vendem de como as meninas são. Você aprende que mulher é um xingamento não é? Te chamam de “menininha” quando querem te diminuir. Só que nada disso é verdade. Meninas são pessoas. E pessoas maravilhosas, inteligentes, cheias de particularidades fascinantes. E você deve amá-las incondicionalmente. Não por sua beleza, ou por desejo ao seu corpo, ou por ser cuidado, ou para ter alguém para te servir. Mas por elas serem… pessoas. Como você. Cheias de particularidades. Defeitos e qualidades. Pessoas que serão suas amigas, companheiras de trabalho, de diversão, e de aventuras. Te ensinar a odiar mulheres é um projeto que você deve recusar. Desconfie de qualquer proposta que coloca mulheres numa posição inferior.

20. Este ainda não é um mundo bom para as mulheres

Este é um mundo em que meninas ainda não são tratadas tão bem quanto os meninos são tratados. Portanto você deve estar sempre atento para não cometer injustiças e nem retirar direitos das meninas. Deve estar vigilante para não cometer abusos e violências. Há mulheres maravilhosas por aí brigando todo dia para tornar esse mundo um lugar melhor para meninas viverem. Não colabore para uma cultura que as obriga a cumprir um padrão de aparência física e comportamento só para agradar você e não seja mais um a tentar esmagar a autoestima delas, fazendo-as pensar que não são boas o suficiente. Eu sei que o mundo vai tentar te convencer de que você é superior às meninas, mais especial, inteligente e poderoso. E que meninas devem obedecê-lo, admirá-lo e servi-lo. Que você verá meninas competindo pela sua atenção e isso vai fazer você se sentir único. Mas resista aos seus privilégios da maneira que puder porque são eles que tornam o mundo um lugar muito perigoso para meninas. Muitos meninos crescem e se tornam homens que perseguem, assassinam, violam, e fazem muito mal para as mulheres. Você não precisa se tornar parte desse problema. Você é um menino bom. Você pode se tornar um homem bom.