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10 coisas que realmente ninguém diz sobre a maternidade

Você notou a quantidade de coisas que realmente ninguém diz sobre a maternidade? Quando ainda não temos filhos ouvimos falar da maternidade sempre de maneira distante, romantizada ou ainda de maneira que nos soa sempre exagerada demais para parecer real. E o fato é que parece que há alguns aspectos que ninguém aborda de verdade, que só vamos descobrir quando nos tornamos mães. Vamos ver alguns agora?

1. Não existe nenhuma maneira 100% segura de evitar gravidez

É exatamente isso. Não existe nenhuma maneira completamente efetiva para se evitar uma gravidez. Pílulas, camisinhas, DIU, Diafragma, mesmo vasectomia e laqueadura não oferecem 100% de garantia. Sua melhor opção é SEMPRE utilizar métodos combinados (camisinha + alguma coisa). Portanto não existe muito escolha na maternidade e “só é mãe quem quer” é uma falácia. Se você faz sexo com homens, corre o risco de engravidar. Você pode minimizar a possibilidade ao máximo, até margens bastante seguras. Mas eliminar o risco por completo só abrindo mão de sexo heterossexual.

2. O sistema de saúde não está preparado para atender gestantes

Essa você nem imaginava não é? Mas é mais pura verdade. Ambos os sistemas— publico e particular — são cesaristas e utilizam protocolos obstétricos e pediátricos completamente desatualizados. Isso mesmo. São práticas que não estão exatamente de acordo com as últimas evidências científicas. Muitas técnicas de atendimento utilizadas estão obsoletas ou mesmo condenadas resultando em muita violência obstétrica. E para fugir dessa situação sequer é somente uma questão de ter dinheiro (não à tôa vira e mexe você vê artistas famosas e endinheiradas que caem na conto da cesárea – mas com muito glamour, é claro). Sua melhor opção é se informar ao máximo, pesquisar muito sobre profissionais que atuem por protocolos atualizados, buscar hospitais da rede pública mais humanizados, e aí entra realmente o fator sorte de encontrar atendimento público decente ou poder aquisitivo para pagar algo semelhante ao valor de um rim por profissionais da rede particular. Nesse caso se você tiver boas indicações de profissionais o dinheiro fará diferença. Na média, é tudo bastante aterrorizante porque o atendimento duvidoso começa já no pré-natal e quase sempre só resta a resignação ou passar toda a gestação peregrinando de médico em médico até acertar um.

3. Você será atormentada pela “indústria da maternidade

Prepare o coração e o bolso. Há toda uma indústria focada em vender um sonho de maternidade romantizada que vai tentar extorquir todo o seu dinheiro criando necessidades surreais e rituais desnecessários para o advento do nascimento do seu filho. Você duvidará de si mesma e da sua capacidade de ter e criar essa criança tamanha a quantidade de geringonças e apetrechos que serão empurrados para você. A maioria desnecessária. Mais uma vez você terá que mergulhar por conta própria em busca de informação de qualidade para entender quais costumam ser exatamente as demandas de uma criança, que tipo de criação combina mais com o seu perfil, e exatamente que tipo de coisas você precisa para conciliar isso. E economizar milhões. Você será incentivada e cobrada para fazer books, enxovais, mesversários, chás de tudo que é jeito e caso não sucumba terá a opção de sair de circulação, se aborrecer, ou passar toda a gestação se justificando.

4. Você será massacrada por estereótipos de gênero

Bem vinda ao mundo dos chá de revelação, meu mundo rosa, meu mundo azul, onde o sexo do seu bebê define tudo, até a cor da chupeta que ele levará na boca e não na genitália. Será impossível comprar qualquer item por mais inofensivo que seja sem responder à inútil pergunta: “é menino ou menina?”, e você será o tempo todo muito bem orientada sobre que tipo de educação que esperam que você dê para sua “princesa” ou para o seu “príncipe” e ai de você se ousar dizer que não vai seguir à risca o manual dos estereótipos de gênero. Resistir a essa pressão é uma tarefa difícil, solitária e bastante aborrecida porque todo o sistema da nossa sociedade hoje parece obcecado em dividir o mundo em coisas de menino e coisas de menina e decidido a não deixar os mundo se misturarem.

5. Você se sentirá infeliz, sozinha e abandonada após parir

Você se sentirá assim e essa percepção será real. Porque as pessoas em geral abandonam mesmo as mulheres assim que elas têm seus filhos. Depois que a parte da curiosidade social cessa mães ficam confinadas com os bebês largadas à própria sorte enquanto a vida de todos continua. Inclusive — na maioria das vezes — do pai do bebê. Muitos amigos se afastarão porque não saberão como se encaixar nessa nova fase da sua vida. As amigas que já são mães estarão envolvidas nos seus próprios problemas, que são muitos. Se você trabalha vai sentir culpa e alívio ao término da licença-maternidade. Culpa porque uma parte de você vai querer estar ali para o seu bebê. Alívio porque você não aguentava mais o confinamento e estava ansiosa para voltar a sua forma humana. Aliás, culpa e alívio serão sentimentos conflitantes que te acompanharão para sempre em relação aos seus filhos.

6. O seu corpo vai mudar para sempre e talvez você nunca mais se aceite

Você receberá pressões absurdas em relação ao seu corpo. O seu corpo “perdido”. Você mal terá saído da maternidade e já estarão te cobrando para que você tenha seu corpo “de volta”. Vão querer enfiar você em uma cinta quando você ainda estiver tentando encontrar uma posição para sentar após o parto. Vão te pressionar a fazer exercícios quando você mal consegue dormir. E vão fiscalizar o que você come. Talvez a única alegria que você tenha nesse momento da sua vida: comer. Exceto que o seu corpo agora é esse mesmo. Diferente do que era antes. Seu. Mas como somos criadas em uma cultura que valoriza mulheres somente pela sua aparência e uma aparência que é adequada a um padrão cruel e impossível de ser alcançado, talvez você nunca mais goste completamente do que vê. Não por culpa sua. Não porque o seu corpo não é bom. Mas porque a sociedade e a indústria da beleza que está sempre pronta para arrancar o seu dinheiro estarão sempre ali à postos, te cobrando e fazendo você lembrar das estrias e da flacidez ou de qualquer outra coisa que não deveriam ter importância nenhuma, afinal, pelo amor da Deusa, você está ocupada tentando manter um bebê vivo. O corpo do pós-parto, que é um corpo renovado porque fabricou um ser-humano deveria ser motivo de orgulho para cada mulher. Deveria ser não, é.

7. Você nunca mais será independente e autônoma

Essa é uma constatação muito dura. Depois de ter filhos, até que eles se tornem adultos, você nunca mais poderá se dizer independente. No sentido de que sozinha você não tem como dar conta de cuidar dos filhos, de si e do seu sustento ao mesmo tempo então você sempre estará dependendo de alguém. Independente da sua situação financeira. Você dependerá de um parceiro que cumpra sua parte como pai e alivie sua carga de trabalho te liberando para fazer outras coisas. Caso não exista esse parceiro você dependerá da ajuda de amigos ou familiares. Caso tenha dinheiro você dependerá da ajuda de mão-de-obra terceirizada. E é dependência mesmo, porque mesmo que você tenha um caminhão de dinheiro, você precisa que os profissionais cumpram a sua parte ali no acordo, já que você não pode simplesmente deixar a criança sozinha amarrada no pé da cama com um pote de ração do lado. Sua relação com o emprego vai mudar, porque você sabe que a inserção de mulheres-mãe no mercado de trabalho é muito mais difícil então talvez você se submeta a situações que nunca se submeteria caso não tivesse filhos. Porque antes era só você e você se virava e talvez passasse o dia só com um sanduíche de pão com manteiga na barriga. Mas agora você tem filhos e você não quer que eles tenham apenas uma refeição diária. Você se sentirá vulnerável e com o peso do mundo em suas costas e é um sentimento acertado. O Estado não oferece apoio para as mães pobres, para as mães trabalhadoras, os companheiros quase nunca cumprem seu papel de pai e marido como deveriam (isso quando estão lá), e é isso, por mais que você tenha rede de apoio você terá que aturar muita coisa simplesmente porque agora você tem um filho sob sua responsabilidade e isto te deixa vulnerável.

8. O seu relacionamento vai mudar, não necessariamente para melhor

O seu relacionamento com seu parceiro vai mudar. Este é um fato irrevogável. Pode ser para a melhor e pode ser para a pior. O seu companheiro pode simplesmente não dar conta da ideia de ser pai e ir embora. Ele pode agir feito uma criança e querer continuar te fazendo cobranças que você não tem como corresponder — como muito sexo por exemplo — e usar isso como desculpa para te trair. Ele pode fingir que nada está acontecendo e continuar com a mesma vida de sempre enquanto você está afogada em um turbilhão de mudanças e completamente sobrecarregada com as novas tarefas. Ele pode abraçar o projeto com você, como deveria ser, e tornar sua vida mais fácil e até prazerosa e juntos vocês se descobrirem mais fortes e unidos. Mesmo assim será difícil: vocês não terão mais tanto tempo um para o outro. Você sentirá falta de como vocês costumavam ser. Você se sentirá carente muitas vezes. Você pode não sentir mais vontade nenhuma de estar com ele. Ou pode levar muito tempo para vocês se reencontrarem. Esta não é uma situação permanente porque crianças crescem. E uma vez que elas estejam mais autônomas a vida vai voltando pro lugar. Mas é preciso muita maturidade para lidar com esse período e essas mudanças. Um filho pode ser uma oportunidade para que um casal cresça junto e a melhor opção é desde a gestação o casal conversar muito sobre as expectativas, procurar ouvir outros casais, chegar num entendimento de como vai ser a vida que os espera, saber que terão aí pelo menos uns 5 anos pela frente em que uma criança será o centro de tudo até que vocês possam voltar a uma rotina mais ou menos própria. Filhos são uma nova fase no relacionamento, o que essa nova fase vai reservar muitas vezes é uma caixinha de surpresas.

9. A maternidade é a arte de conciliar contradições internas e nem todos os sentimentos são publicáveis

Com a maternidade você vai se deparar o tempo inteiro com sentimentos contraditórios dentro de si, nem todos publicáveis principalmente porque existe uma romantização muito grande que fará você se sentir culpada por boa parte dos seus sentimentos. Mas acredite, todas as mulheres sentem-se assim. Só que algumas reconhecem os sentimentos de si, outras não. E quase todas negam. Para si mesma e com os outros. A vontade de estar sempre junto ao filho, a necessidade de estar sozinha. O amor despertado pela presença da criança e pela nova vida que isto representa, a saudade da vida antiga onde não tinha tanto perrengue. A raiva por ter que se submeter a tanta coisa por causa da criança, a culpa por sentir raiva sabendo que a criança não tem nada a ver com isso. Transitamos o tempo todo entre o amor e a dor, com muita culpa causada por um sociedade que responsabiliza mães por tudo, romantiza maternidade e não nos dá nenhum apoio. Seja generosa consigo mesma nesse processo e saiba que todos os seus sentimentos são perfeitamente legítimos. Reconhecer os próprios sentimentos é uma estratégia importante para não transferir para os filhos (e puni-los) por algumas frustrações — que sim são recorrentes — com relação ao que a vida se tornou em função da difícil vivência da maternidade. Porque fato é nisso tudo que mulheres não tem culpa nesse processo, mas as crianças muito menos. E nessa equação mãe-filho, os filhos são os vulneráveis.

10. Ninguém liga para mães e crianças

Pois é. Isso é algo que você só descobre realmente depois que tem filhos. Na prática ninguém liga para mulheres e crianças e há inclusive um sutil discurso de ódio em uma sociedade que é movida pela cultura do estupro e da pedofilia e profundamente adultizada e etarista. Mulheres precisam de uma lei que as proteja para que possam amamentar seus filhos em paz onde necessitarem. Quantos equipamentos sociais existem que são adequados para receber mães com seus filhos? Transportes, áreas de lazer, restaurantes? Sair com crianças na rua é uma verdadeira operação de guerrilha. Se você não estiver bastante atento algo realmente sério pode acontecer com ela porque esta não é uma sociedade em que você transita sentindo-se acolhida sabendo que a comunidade toda do entorno está zelando pelas suas crianças. Ao contrário, a comunidade é predadora e pode roubar o seu filho e vendê-lo na deep web. Tudo é pensado para receber pessoas adultas. Pessoas adultas essas que ainda torcem o nariz para crianças e pressionam os pais a discipliná-las inclusive violentamente para que “se comportem”, leia-se, para que não se comportem como crianças no espaço público. O discurso da sociedade em relação a crianças é autoritário, estimula a agressividade como forma de disciplina. Pais são incitados a uma síndrome de pequeno poder e muitos se tornam pequenos ditadores em relação aos seus filhos. Onde a “imposição de limites” é a desculpa para a violência. A criança nasce e rapidamente começa um esforço para que ela se torne adulta sob a falácia do “tornar-se independente”. O bom filho é o filho independente. O que significa isso afinal? Precocemente crianças são treinadas para fazer tudo sozinhas, dar o menor “trabalho” possível, se tornarem produtivas. Se tornarem adultas. E as mães, capatazes do patriarcado, seguem nesse baile. Igualmente desprezadas.

Precisamos conversar abertamente sobre os impactos da maternagem sobre as mulheres, só assim teremos condições de pensar políticas de apoio que sejam verdadeiramente eficientes e libertadoras.

Cila Santos

https://cilasantos.medium.com

Escritora, feminista, mãe e ativista pelos direitos das mulheres e das crianças. Criadora do projeto Militância Materna, falo sobre feminismo, maternidade e infância, disputando consciências por um mundo melhor. Vamos juntas?

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