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5 tipos de exemplos que adultos devem dar às crianças

A socialização de crianças ocorre a partir do dizemos para elas mas principalmente a partir daquilo que ela vê, os modelos de comportamento que ela apreende do mundo. Crianças aprendem o que ensinamos e, principalmente, apreendem o mundo a partir daquilo que elas vêem dos seus adultos de referência. Vamos para o mundo imitando esses adultos e com a maturidade é que vamos tendo possibilidade emocional e bagagem crítica para reorganizar esses comportamentos na vida. Por isso os tipos de exemplos que adultos devem dar às crianças podem ser determinantes no futuro:

  1. homens realizando trabalho doméstico
    não adianta apenas dar panelinhas para os meninos ou subtraí-las das meninas, crianças precisam ver homens e mulheres realizando todos os tipos de trabalho doméstico nos ambientes que ela frequenta, a ponto dela não ser capaz de fazer nenhuma associação de atividades a um sexo pois vê todos fazendo de tudo: lavando, passando, cozinhando, limpando, cuidando dos outros. E idealmente, ela precisa ver isso dentro da própria casa, ver todos os adultos ali conversando e realizando a divisão das tarefas da maneira mais justa possível para todos, e inclusive incluindo a criança nas pequenas tarefas.
  2. mulheres divertindo-se
    Traga na mente a imagem de mulheres da infância? Quantas estavam à toa, rindo, fazendo nada, apenas curtindo um pouco a vida? Possivelmente pouquíssimas, porque mulheres não aprendem que têm direito a isso quando chegam na vida adulta. Homens cultivam seus hobbies, tem seus esportes, carteado, videogame, encontro com os amigos no bar, e toda uma série de coisas que ocupa esse lugar de lazer e entretenimento. Para mulheres resta o trabalho doméstico, o trabalho invisível que nunca termina, e quando sobra tempo, uma novela ou série. E convenientemente mulheres ainda aprendem que “lazer” é embelezar-se, então gastam o seu pouco tempo livre dedicadas a rituais de beleza que são tudo, menos divertidos. Então faça um favor as suas crianças e divirta-se. Deixa a louça na pia e senta pra jogar videogame também, saia com suas amigas ou receba-as em casa e passe a tarde gargalhando com elas. Cultive também seus hobbies, escute suas músicas, cante alto, dance pela sala. Deixe as crianças saberem que mulheres são pessoas que existem para além do serviço, da utilidade pública e do embelezamento de ambientes.
  3. homens emocionando-se e falando sobre sentimentos
    Quase tudo que crianças veem sobre homens é com eles envolvidos em conflitos. Homens gritando, com raiva, socando coisas, resolvendo tudo no tapa e no tiro. Homens demonstrando força, brutalidade. Crianças precisam saber que homens possuem sentimentos e que emocionar-se, ter empatia, ter sensibilidade, gentileza, fragilidade não é uma prerrogativa feminina. Que os homens da vida da criança chorem junto com ela assistindo desenho animado, usem roupas coloridas, não tenham medo de dizer que erraram, pedir desculpas, dizer que não sabem, que estão com medo. Que crianças possam conhecer homens que sejam humanizados, despreocupados do compromisso de serem dominantes, desvinculados do compromisso de serem heróis, guerreiros, príncipes. Homens rebelados com o pacto de dureza que o patriarcado exige de todos eles. E que haja cada vez mais retratos desses homens (e meninos) nas narrativas midiáticas para além da caricatura das comédias românticas.
  4. mulheres reais, despreocupadas em serem belas
    Crianças precisam tomar contato com mulheres reais. Mulheres que têm pêlos, marcas, cicatrizes, seios flácidos, celulites, cabelos desgrenhados, rugas. Precisam ver mulheres despreocupadas com roupa, maquiagem, comendo e bebendo com prazer, sem contar calorias compulsivamente. Crianças precisam ver mulheres parando de autodepreciar ou supervalorizar a própria aparência e a de outras mulheres, falando coisas do tipo “nossa, como fulana engordou”, ou “meu cabelo está horrível”. Precisam ver mulheres elogiando-se sem ser pela forma física, aparência ou roupas. E parar de ver mulheres gastando horas do dia em rituais de roupa, unha, cabelo, depilação, maquiagem, para somente depois disso as ouvirem dizer que “estão ótimas”. E parar de ver concursos de beleza e mídias onde mulheres e meninas tem uma aparência absolutamente irreal e falsificada. Parar de ganhar bonecas que já chegam magras, loiras e maquiadas. Meninos e meninas precisam ter contato o tempo inteiro com mulheres reais, validando outras mulheres reais e levando suas vidas sem angústia de estar “bela”.
  5. adultos repudiando violência
    esse é o mais difícil e o mais importante. Crianças precisam testemunhar homens e mulheres repudiando a violência. E isso implica ver homens não sendo violentos com mulheres nem crianças. Isso implica mulheres não sendo violentas com seus filhos. Isso implica rever toda a nossa produção cultural que exalta a força e a violência como maneira de transitar no mundo. Crianças precisam, no mínimo, de um ambiente onde haja um esforço contínuo pelo estabelecimento de acordos, de conversas, de estratégias para resolver problemas que não envolvam gritos, agressões verbais, chantagem emocional, ameaças, agressões físicas. De um ambiente formados por adultos que abandonem o punitivismo como forma de relacionamento e aprendizado. Crianças precisam conviver com isso, e casa, na escola, na maior parte de ambientes possível. Precisam ver adultos conscientes e críticos, empenhados em combater todos os males que uma sociedade tão agressiva, violenta e voltada para a dominação dos mais vulneráveis nos causa. E como adultos, esse é o nosso principal desafio. Combater a dominância, a hierarquia e a violência que nos rege e mostrar a todas as nossas crianças que é possível vivem em comunidade sem tanto sofrimento.

Dessa forma, há algumas coisas que crianças precisam começar a VER acontecendo por aí, não esporadicamente, mas o tempo todo, na sua casa, na casa dos parentes e amigos, nas histórias que lê, que assiste. São mensagens simples mas poderosas que vão mostrando outras possibilidades, que ajudam a quebrar a lógica da exploração patriarcal e da hierarquia entre homens e mulheres, que é afinal contra o que lutamos.

Cila Santos

https://cilasantos.medium.com

Escritora, feminista, mãe e ativista pelos direitos das mulheres e das crianças. Criadora do projeto Militância Materna, falo sobre feminismo, maternidade e infância, disputando consciências por um mundo melhor. Vamos juntas?

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