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De tantas saudades

Meu filho, você completa seis anos. Seis longos anos se passaram desde que te peguei no colo pela primeira vez e hoje quando te vejo assim, já um menino, meu coração é só saudades. Sim, eu já sinto agora saudades desse garoto divertido e esperto que você é porque descobri que o tempo passa muito rápido. Eu ainda não esqueci teu cheiro de bebê, eu ainda não esqueci teus primeiros passos e agora tudo são saltos e pulos pela casa. Eu ainda não esqueci teus balbucios e agora você matraqueia sem parar. Eu sinto tantas saudades, saudades de tudo. Saudades de você, saudades de mim antes de você. Meu coração é só confusão, eu sinto falta de poder dormir tranquila até a hora que quiser e sinto falta do seu sorriso que me acompanha incansavelmente todas as manhãs. Eu sinto falta do meu corpo antes que você o invadisse e sinto falta de sentir você se transformando em você dentro da minha barriga. Eu sinto falta da minha vida antes de tudo ser sobre você e sinto falta cada vez que você não está aqui. Como é possível tanta contradição num coração?

Você na minha vida me impulsionou a ser coisas que jamais sonhei. A olhar para lugares e abrir portas que nunca mais conseguirei fechar. Tua presença cotidiana, que me tornou mãe, também me tornou uma mulher que anseia e luta por uma possibilidade de mundo melhor para todas as mulheres e para todas as crianças. Mas foi você, é por você. É por não querer perder sua alma, por não querer deixar você entregá-la, num pacto por privilégios. Eu sinto saudades. Saudades de quando a vida parecia mais fácil apenas porque eu não entendia, eu não via, eu não sentia. Eu não sentia nada, e agora eu sinto tudo, meu filho. E foi você, rasgando minhas vísceras com a tua chegada.

Eu sei que foi a socialização que me trouxe até aqui, mas não posso negar a intensidade desse vínculo, de amor, de afeto. Tudo passa tão rápido, e eu sinto alívio também, porque foi tudo tão difícil, e então eu penso que bom que passou, nunca mais faria de novo, mas aí me doem as saudades de um jeito que não tem jeito. E digo “não tenham filhos”, como dizer o contrário? Mas não, eu não vou negar, a maternidade me transformou, ela me trouxe até aqui, ela me forjou essa mulher melhor. E não, não acontece com todas. E sim, acontece com muitas. E às vezes um sorriso apaga tudo, mas é sempre só por um instante. Você tem seis anos, meu filho, e eu não odeio ser mãe. Eu não odeio mesmo. Mas odeio o patriarcado, eu odeio esse mundo que explora mulheres e que nos impede de mergulhar no mar intenso dessa experiência sem medo de rachar a cabeça no fundo.

Você faz seis anos e eu sou só saudades. Saudades de quando você não estava aqui. Saudades de cada versão de você que se vai enquanto você cresce, assim tão rápido.

Cila Santos

https://cilasantos.medium.com

Escritora, feminista, mãe e ativista pelos direitos das mulheres e das crianças. Criadora do projeto Militância Materna, falo sobre feminismo, maternidade e infância, disputando consciências por um mundo melhor. Vamos juntas?

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