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As 3 leis do patriarcado para os meninos

O patriarcado é o sistema social que produz a dominação masculina na sociedade. Dessa forma, há 3 leis do patriarcado para os meninos que eles devem aprender para que cresçam e se tornem os homens que garantirão a manutenção dessa estrutura de poder, que sustenta-se através da exploração sexual e reprodutiva de mulheres.

Esses conceitos embora não sejam ditos abertamente, tampouco são ensinados de maneira “sutil”, ao contrário, estão presentes em cada elemento da nossa cultura, nos valores das nossas instituições, nos nossos símbolos, no nosso imaginário social. E por isso é preciso muita atenção tanto para reconhecer quanto para assumir uma postura crítica cada vez que uma dessas três normas são apresentadas aos meninos:

  1. homens têm a supremacia: 
    para onde meninos olham são apresentados a modelos da supremacia, dominação e onipotência masculina. Deus é homem. Assim como os reis, a maioria esmagadora dos líderes mundiais, todas as grandes figuras históricas, cientistas, artistas. Todas as figuras admiráveis por seus feitos e contribuições para a humanidade. Nos filmes, desenhos, os protagonistas são homens. Se não são protagonistas tem mais tempo de tela, mais falas. E quando se olha em volta vê o pai, amigos, parentes, vizinhos, todos homens comuns, sendo sempre em alguma medida servidos por mulheres. E ele nota como, mesmo sendo criança, já possui privilégios de tratamento em relação a meninas, seja no próprio núcleo familiar, seja na escola, ou em outros ambientes. É muito fácil para um menino, principalmente se for branco, com dinheiro, crescer com a noção de que é o centro do universo. O mundo é masculino e são homens que dominam a história, economia, os governos, a produção cultural, a ciência, indústria, mercado, tecnologia, entretenimento. Em toda parte são homens produzindo sobre si e para si e meninos aprendem muito claramente que são os herdeiros da terra. Mas não existe um dominador sem os seus dominados e a segunda lei do patriarcado que meninos aprendem é sobre reconhecer quem serão seus servos.
  2. mulheres são inferiores e existem para servir ao homens: 
    a primeira coisa que meninos aprendem sobre si é que eles não são meninas. E que ser uma menina é a pior coisa que pode acontecer visto que elas são a medida de tudo que é inferior e indesejado na sociedade: se meninos são fortes, meninas são fracas, se meninos são rápidos, meninas são lentas, se meninos são espertos, meninas são tolas, se meninos são inventivos, meninas são fúteis, meninos são legais, meninas são chatas. “Menina”, “mulher”, é sinônimo de imperfeição e motivo de escárnio, e nenhum menino quer “parecer mulherzinha”, “correr como menina”, “chorar como menina”, “andar como menina”. O que meninos aprendem sobre meninas é que elas são o outro, são a negação de si, são o oposto, o fraco. Se meninos aprendem que são superiores, muito rapidamente entendem a quem são superiores: às meninas. Homens não aprendem a amar mulheres. Não aprendem a admirá-las, não conhecem seus feitos, suas grandes obras, suas descobertas. Não se interessam pelo que pensam, pelo que produzem. Ao contrário, aprendem a desprezar mulheres, a sentir “nojo”, e isso tem nome: misoginia. Uma única coisa é mostrada à exaustão sobre mulheres como aquilo que deve ser desejado, ambicionado e conquistado: o corpo feminino, seu sexo. Porque mulheres são desumanizadas e objetificadas. Uma única coisa é ensinada que mulheres tem a oferecer para homens: seus serviços de cuidado do lar e dos filhos, preferencialmente homens, para que ele transmita seu legado. Meninos aprendem que mulheres existem para servi-lo, que o corpo feminino existe para excitá-lo e dar prazer, que o ventre da mulher existe para gerar seus filhos, e que ele tem o direito de tomar uma mulher para si quando quiser. E mais, aprendem que só são homens com H maiúsculo quanto tomam o maior número de mulheres possível para si. Essa é a mensagem que é passada em toda parte, desde a Bíblia, até repaginada em qualquer comédia romântica blockbuster da Netflix. E meninos aprendem então a terceira lei do patriarcado, que é qual a estratégia para manter a dominação sobre mulheres, e sobre tudo mais que quiserem.
  3. a violência é o recurso para transitar no mundo
    meninos aprendem que a violência e a agressividade são características não só aceitas, mas desejáveis e valorizadas, na sua personalidade. São incitados a demonstrar uma pretensa “virilidade” traduzida em um comportamento agressivo, dominante, impaciente, vendido como característica “intrínseca” a “machos”, como sinal de “muita testosterona”. Meninos são estimulados a “não deixar barato”, a “falar grosso”, a gritar para se impor. Toda a nossa cultura vende a ideia de homens “fortes”, “conquistadores”, “heróis”, sempre usando a violência. Intimidar, humilhar, bater e matar pessoas são recursos validados desde sempre como forma de “defesa”. E meninos são massacrados com essa ideia, precisam o tempo inteiro provar sua “virilidade”, “que não choram”, “que não tem frescura”, “que aguentam”, que “não são mulherzinhas”. Meninos que não demonstram força, agressividade, disposição para violência, impiedade, são rejeitados, humilhados, taxados de “afeminados”. Quando não agredidos, “para aprender”. Porque é através da intimidação e do medo, que meninos aprendem que devem buscar o que querem. Para homens ser amado, respeitado é o mesmo que ser temido. E eles esbaldam-se nessa sensação de onipotência que essa sensação de poder confere, e protegem uns aos outros em sua violência, são cúmplices, omissos. Porque são irmanados na profunda desintegração de toda sua sensibilidade e empatia, o preço que pagam para receber os privilégios do patriarcado.

Essas três regras, em conjunto, organizam o comportamento dos homens no mundo. Meninos crescem realizando a soma desse bombardeio incessante de mensagens que dizem o tempo inteiro: “você é especial apenas por ser menino”, “meninas são inferiores”, “você deve ser forte, você deve ser vencedor, você deve dominar o inimigo”, “você não pode aceitar que te desafiem”, “você não deve aceitar não como resposta”. E como resultado concluem que “você é um ser superior às mulheres e portanto pode usar a força e a violência para dominá-las”, ou “você deve sempre ser atendido em todos os seus desejos e nunca deverá ser frustrado, principalmente por uma mulher, não permita que isso aconteça”, ou “é você e os seus desejos que importam e você deve sempre cuidar de si, e não se preocupar com mais nada”, ou “mulheres existem para servi-lo e nada mais”, ou “você é homem e pode fazer o que quiser e nenhuma mulher poderá impedi-lo”.

Homens aprendem que são os donos do mundo, que podem e devem conquistar tudo e que mulheres são seu espólio de guerra.

E portanto, se há um caminho possível na educação de meninos para um mundo menos sexista ela está em começar a combater esses valores que são incrustrados desde o nascimento. A ideia de que são especiais demais apenas por terem um pênis. A ideia de que meninas são seres desimportantes, inferiores, indignos e sulbalternos e toda a misoginia insidiosa que a sociedade injeta na veia, e principalmente o repúdio da violência como linguagem de estar no mundo. Meninos precisam ativamente repudiar e combater a agressividade dos seus pares, abandonarem a ideia de que tudo podem apenas porque querem, porque gritam, porque batem, porque intimidam. Aprender a transitar pela via do diálogo, aprender a lidar com a frustração, com a recusa, com a rejeição, recusar a onipotência oferecida pelo patriarcado.

E minar esses valores passa pela vigilância constante, pelo reconhecimento, nomeação e crítica. O que significa dizer o tempo inteiro ao seu filho “isso que você está vendo parece bom, mas é errado porque está te ensinando que (insira aqui alguma lei do patriarcado). E esse valor tem como resultado um mundo em que meninas e mulheres são exploradas e mortas. E queremos um mundo melhor que esse.” Difícil? É sim. Funcionará? Não sei. Mas é o melhor que temos pra hoje para nossas crianças. Olhar de frente para o problema e continuar lutando.

Cila Santos

https://cilasantos.medium.com

Escritora, feminista, mãe e ativista pelos direitos das mulheres e das crianças. Criadora do projeto Militância Materna, falo sobre feminismo, maternidade e infância, disputando consciências por um mundo melhor. Vamos juntas?

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